SAIBA MAIS

O intuito principal do Projeto VTD é o de abrir possibilidades para que as bailarinas de Dança Tribal de diversas partes do mundo pudessem colaborar com a produção de uma mesma videodança. Assim, a Dança Tribal e a videodança foram agrupadas em um mesmo contexto de criação, em que a coletividade prevalece juntamente com as tecnologias de comunicação que busca no processo colaborativo desenvolver projetos multidisciplinares.

Não cabem, portanto, comparações ou afirmativas preconceituosas como “o vídeo é utilizado para camuflar a falta de habilidades corporais”, uma vez que se trata de meios diferentes, e que requerem habilidades diferentes. O ponto comum é que assim como não basta colocar um corpo em cena e dizer que é dança, não bastam imagens de um corpo em movimento para caracterizar a videodança (SOUZA, 2008, p. 4).

Dessa forma, enxergou-se a possibilidade de diluir e deslocar fronteiras culturais, que interagem entre si, mantendo, no entanto, a configuração original das linguagens. O atual contexto dentro do cenário da Dança Tribal em todo o mundo é movido pelas relações de afinidades, ambições, desejos, boas e más condutas entre seus membros e principalmente pelo interesse na dança em si. Todas essas relações estão conectadas e são alimentadas por redes de informações através da participação, interação e colaboração de seus usuários. E por serem ambas, artes que deslocam os limites de fronteiras, criou-se a necessidade de romper territórios e gerar novas ligações entre seus membros. Nesse sentido, recorremos ao autor Bourriaud que afirma que “a supremacia das culturas da apropriação e do novo tratamento dado às formas gera uma moral: as obras pertencem a todos [...]” (BOURRIAUD, 2009, p. 35).
O crescimento e a evolução da internet juntamente com a democratização da informática, proporcionou uma mudança social que favoreceu o surgimento de uma nova paisagem cultural. Em decorrência dessa nova paisagem cultural, os meios de produções artísticas também sofreram alterações, expandindo o campo de criação dos artistas. Foi identificado um novo ambiente de projeção artística dentro da internet e suas redes sociais que está ao alcance de todos e que formaram novos meios de sociabilidade e também visibilidade das produções artísticas. As criações são exibidas online, saindo totalmente do contexto tradicional de exposição em espaços físicos tradicionais, como galerias e museus, criando dessa maneira outras possibilidades de interação com o objeto artístico. A partir desta reflexão, temos o autor Rigatti que diz que, “[...] o espaço virtual e real não degladiam-se, unem-se em propostas artísticas e apresentam novas apreensões da realidade, para um público que se torna cada vez mais ávido por conhecê-la e apreciá-la” (RIGATTI, 2011, p. 05). 
As redes sociais promovem a cada instante novas formas de saber, além de novos meios de produção artística que acontecem de maneira coletiva. As trocas de conhecimentos e materiais parecem surgir quase que de maneira inconsciente, em que não há apenas um autor e sim vários propositores que escrevem juntos um mesmo roteiro. Como propõe Bourriaud, “[...] os artistas atuais não compõem, mas programam formas: em vez de transfigurar um elemento bruto (a tela, a argila), eles utilizam o dado” (BOURRIAUD, 2009, p. 13). O atual momento das artes online, fez com que a participação coletiva gerasse também novos locais de criação de conteúdos. Esses ambientes virtuais hoje são espaços de convívio, onde a interação entre seus componentes cria uma relação de diálogo com as pessoas que participam do processo de recepção, difusão e distribuição das obras ali expostas. Essa possibilidade de troca faz com que também surja a vontade de buscar novos meios de criação, assim como afirma Lévy: “[...] o ambiente tecnocultural emergente desperta o desenvolvimento de novas espécies de arte, ignorando a separação entre emissão e recepção, composição e interpretação” (LÉVY, 1998, apud BOURRIAD, 2009, p. 103).
Dependendo das relações e das contribuições, os meios de conceber uma obra de arte também mudam. Todo o processo de transferência de conhecimentos e experiências dentro dessa esfera virtual de conexões humanas será afetado por fatores individuais e interpessoais. Temos os membros que participam com mais ou menos frequência do que os membros do eixo central, outros ocupam apenas o lugar de observador. A partir destas relações, surge um campo fértil de criações diversas e também do Projeto VTD, que conforme Bourriaud trata-se de “[...] invenções de novas montagens, de relações possíveis entre unidades distintas, de construções de alianças entre diferentes parceiros” (BOURRIAUD, 2009, p. 63). A movimentação nessa rede de sistemas de comunicação trabalha em prol de uma mesma causa, permite que todos os sujeitos envolvidos contribuam, em menor ou maior grau, na produção de uma obra de arte coletiva.  Essas relações possíveis conectam sujeitos “[...] em um mesmo diálogo supostamente enriquecedor” (CAUQUELIN, 2005, p. 51).

Em termos de comunicação, a rede é um sistema de ligações multipolar no qual pode ser conectado um número não definido de entradas, cada ponto da rede geral podendo servir de partida para outras microrredes. Isto é o mesmo que dizer que o conjunto é extensível. Nesse conjunto, pouco importa a maneira pela qual se efetua a entrada (CAUQUELIN, 2005, p. 59).